Para poder entendê-lo melhor, basta observarmos, o que nos é ofertado pelos comerciais nos intervalos dos chamados “horários nobres” da TV.
Aquilo lá é uma amostra invariável da utopia neo-liberal; mas essencialmente e apenas a exposição óbvia daquilo que é insustentável.
São os apelos publicitários exacerbados, tão fortes quanto ilusórios, do marketing indefectível das megas corporações mundiais, focados no binômio álcool-açúcar, (energia dos transportes e da alimentação).
Douram os nefastos, e aparentemente inofensivos “Drinks"e “Refris”, quanto aos automóveis, o câncer do urbanismo do séc 21, insaciáveis consumidores de combustíveis não renováveis, e poluentes, omitem o seu “triunfo suicida” sofisticando o transporte individual em detrimento ao coletivo), louvam os “últimos lançamentos” do insaciável consumismo eletroeletrônicos, oferecendo com enfase os cancerígenos “alimentos” químicos adocicados e os derivados (embutidos) da indústria da carne.
Tudo proposto na contra mão do que seria viver satisfatoriamente são, mas em sendo os meios que maximizam o lucro, impõe-se um modelo irracional, e posterga-se o caos que será inevitável...
Questão de tempo apenas para a fatura aparecer.
A necessidade do sistema de envernizar-se, ampliando sua democracia econômica, às massas excluídas do consumo supérfluo (consumismo), tornou-se hoje um autêntico pesadelo... O lema progressista “crescer distributivo, ou a estagnação”, está definitivamente questionado... O falacioso “processo ocidental civilizatório e desenvolvimentista”, gerador da enorme crise ambiental que ora vivemos, foi posto em cheque-mate, pela própria lógica evoluta do capital, já que isto significa se envolver em diversos processos não-sustentáveis, e ameaçadores... à própria sobrevivência planetária.
Hoje, a Terra agredida, literalmente, “pede água”.
Há tempos que o “aquecimento global”, deixou de ser apenas um discurso dos incômodos “eco chatos” de plantão.
Criou-se no início do séc 21, o impasse político econômico: ou construímos um novo estilo/destino de vida auto-sustentável, responsável, ou iremos todos “arder” no desequilíbrio auto provocado...
Quando o sistema econômico produtor de capitais e mercadorias, foi evoluindo ao longo da sua trajetória histórica, do simples mercantilismo expansionista, para a atual plutocracia financista globalizada, concentrou-se em raras mãos, ou cabeças, as decisões vitais, e necessárias, para a plenitude da vida, dificultando aquilo que em tese poderia até facilitar decisões básicas, tornando-se um obstáculo ainda maior para o entendimento universal de qual deveria ser o critério para a evolução racional da vida no Terra...
É foi esta ausência total de consensos e solidariedades, apesar da nossa natureza naturalmente gregária, a geradora do egotismo sistematizado: o lema individualista proposto do “cada um pra si é Deus pra todos”, que ouvimos, “desde criancinha”, o qual define culturalmente, com extrema precisão, a mentalidade mesquinha e “autista” de um mundo insensível em que sobrevivemos.
E por isto mesmo, poucos seres no planeta, conseguem "viver solidários" para e com o seu “próximo”, pois no dicionário do egotismo, “próximo” significa alguém “distante” de minha realidade, e ademais, não temos nem tempo nem interesses para transformarmo-nos, acomodados ou anestesiados, aceitamos sólidos consensos, de que esta questão é apenas um desvairo...Ou mais uma utopia...Perdemos a capacidade de refletir e de se indignar...
Daí a atualidade revolucionária da sacra e milenar doutrina “das boas novas”, de Jesus Cristo, já idos mais de 2000 anos do seu básico ensinamento, e do silêncio a respeito: ”ama o teu próximo como a ti mesmo”; cujo entendimento foi relegado a um mero formalismo inter religiões, ou algo substituto de uma projeção social e psíquica, pelo rito consumista; pelo da causa própria, pelo incomensurável delírio de se levar à vida focado exclusivamente pensando apenas em si próprio...pois a exacerbação do individualismo, é o resultado psíquico lógico do modelo social do liberalismo econômico.
Trabalhamos 11 meses do ano para a nossa sobrevivência semi escravizada, e tiramos do ano, mais um mês de "férias" para mergulharmos de novo em nós mesmos...Não possuímos vida solidária coletiva. Somos uma multidão de solitários.
Horácio Féres. Observador social.